Por que, em pleno século 21, as mulheres temem mais a gestação que as doenças sexualmente transmissíveis
A preocupação em relação a tais doenças só é vista em mulheres violentadas. Nesse grupo, o receio da contaminação é o mesmo de uma possível gestação indesejada.
Calcule seu período fértil e lembre-se da pílula
Nosso foco não é no atendimento de base, mesmo assim recebemos diariamente pacientes querendo fazer teste de gravidez ou tirar dúvidas sobre corrimento e infecção urinária. A preocupação só muda quando atendemos vítimas de abuso sexual.
Presente na maioria dos consultórios ginecológicos, a pergunta reflete dois problemas crônicos no País: saúde e educação. Gravidez não se dá por geração espontânea!!
Sempre há uma história exagerada que alimenta e potencializa a
dúvida. A falta de informação, o apelo a conhecimentos rasos e
crendices faz com que o problema se arraste, e independa de idade ou
classe social.
Em 2005, se fez um serviço de 0800 para que a população
pudesse tirar dúvidas sobre temas relacionados à sexualidade. A médica
revela que nas três horas semanais como plantonista, 80% das perguntas
eram relacionadas à gravidez.São questionamentos básicos que mostram o receio exagerado de quem não usou camisinha e se descuidou nos métodos anticoncepcionais. Entre público adolescente, a confusão e desorientação é ainda mais gritante.
Indispensável
De fato, o conhecimento popular pouco tem a contribuir para que as mulheres entendam que a pílula, o DIU, os hormônios injetáveis e os demais métodos de barreira não excluem o uso do preservativo. A demora no atendimento público dá margem para que as dúvidas sejam resolvidas com fontes alternativas e pouco confiáveis.
Ela acreditava que a receita era contraceptiva. Revelou que usou tal método durante nove meses, e só engravidou quando deixou de usá-lo.
Embora o público do posto seja majoritariamente idoso, em média, 10 mulheres por dia buscam a unidade para fazer teste de gravidez.
Mitos e crenças
Segundo os especialistas, a maioria das mulheres admite o descuido em relação ao preservativo, mas não acha necessário investir na proteção quando está em um relacionamento. O mito do parceiro "limpinho" também faz com que um filho não programado seja o único risco de uma relação sem camisinha. A publicitária R.M. admite que seu temor número 1, em uma etapa de vida dedicada a trabalho e lazer, é uma gravidez inesperada.
"Já namoro há mais de dois anos. Os relacionamentos longos realmente desprezam a camisinha, vejo isso acontecer com muitas amigas. Tomo a pílula todos os dias e confio no meu parceiro. É exatamente por isso que não temo contrair nenhuma DST. Quando esqueço de tomar o anticoncepcional, fico com receio.”
A postura de R., de acordo com os médicos, não é isolada. Espelha o comportamento de uma geração de mulheres que se vê distante das doenças sexualmente transmissíveis, mesmo dispondo de acesso à informação, e atendimento médico eficiente.
É um problema que atinge múltiplas esferas. Além dos déficits na educação, a sensível relação entre médicos e pacientes, o tempo limitado da consulta, a postura individual e o destemor comprometem a redução dos índices de HPV e de outras doenças no País.
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