quinta-feira, 23 de maio de 2013

Posso estar grávida?


Por que, em pleno século 21, as mulheres temem mais a gestação que as doenças sexualmente transmissíveis

 
 
 
Medo da gravidez supera o temor da Aidis?
No que depender do (des)conhecimento popular, a gravidez é muito mais complexa do que uma simples relação desprotegida. Não saber o que é período fértil e quais as reais chances de gerar uma criança, talvez seja um dos menores males da ignorância feminina em relação à própria saúde sexual. aids, HPV e outras doenças sexualmente transmissíveis, além de pouco entendidas, não encabeçam a lista dos temores das mulheres após o sexo sem camisinha.
A preocupação em relação a tais doenças só é vista em mulheres violentadas. Nesse grupo, o receio da contaminação é o mesmo de uma possível gestação indesejada.  
Calcule seu período fértil e lembre-se da pílula
Nosso foco não é no atendimento de base, mesmo assim recebemos diariamente pacientes querendo fazer teste de gravidez ou tirar dúvidas sobre corrimento e infecção urinária. A preocupação só muda quando atendemos vítimas de abuso sexual.
Presente na maioria dos consultórios ginecológicos, a pergunta reflete dois problemas crônicos no País: saúde e educação.  Gravidez não se dá por geração espontânea!!

Sempre há uma história exagerada que alimenta e potencializa a dúvida. A falta de informação, o apelo a conhecimentos rasos e crendices faz com que o problema se arraste, e independa de idade ou classe social.
Em 2005,  se fez um serviço de 0800 para que a população pudesse tirar dúvidas sobre temas relacionados à sexualidade. A médica revela que nas três horas semanais como plantonista, 80% das perguntas eram relacionadas à gravidez.
São questionamentos básicos que mostram o receio exagerado de quem não usou camisinha e se descuidou nos métodos anticoncepcionais. Entre público adolescente, a confusão e desorientação é ainda mais gritante.
 
Indispensável
De fato, o conhecimento popular pouco tem a contribuir para que as mulheres entendam que a pílula, o DIU, os hormônios injetáveis e os demais métodos de barreira não excluem o uso do preservativo. A demora no atendimento público dá margem para que as dúvidas sejam resolvidas com fontes alternativas e pouco confiáveis.

O questionamento é presente, mas o atendimento nos postos de saúde é a longo prazo. Esse sistema moroso faz com que as pessoas busquem respostas na conversa com uma amiga, vizinha ou na internet. Me deparei com as teorias caseiras anti-gravidez . Uma mulher, grávida do terceiro filho, contou que tinha sido ensinada pela vizinha a urinar após a relação sexual. Dessa forma, garantia a vizinha, ela não engravidaria.
Ela acreditava que a receita era contraceptiva. Revelou que usou tal método durante nove meses, e só engravidou quando deixou de usá-lo.
Embora o público do posto  seja majoritariamente idoso, em média, 10 mulheres por dia buscam a unidade para fazer teste de gravidez.
 
Mitos e crenças
Segundo os especialistas, a maioria das mulheres admite o descuido em relação ao preservativo, mas não acha necessário investir na proteção quando está em um relacionamento. O mito do parceiro "limpinho" também faz com que um filho não programado seja o único risco de uma relação sem camisinha. A publicitária R.M. admite que seu temor número 1, em uma etapa de vida dedicada a trabalho e lazer, é uma gravidez inesperada.
"Já namoro há mais de dois anos. Os relacionamentos longos realmente desprezam a camisinha, vejo isso acontecer com muitas amigas. Tomo a pílula todos os dias e confio no meu parceiro. É exatamente por isso que não temo contrair nenhuma DST. Quando esqueço de tomar o anticoncepcional, fico com receio.”
A postura de R., de acordo com os médicos, não é isolada. Espelha o comportamento de uma geração de mulheres que se vê distante das doenças sexualmente transmissíveis, mesmo dispondo de acesso à informação, e atendimento médico eficiente.
É um problema que atinge múltiplas esferas. Além dos déficits na educação, a sensível relação entre médicos e pacientes, o tempo limitado da consulta, a postura individual e o destemor comprometem a redução dos índices de HPV e de outras doenças no País.

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