quarta-feira, 17 de agosto de 2011

O prazer do sexo anal


Não foi apenas espaço no mercado de trabalho que a revolução feminina das últimas décadas rendeu para as mulheres. Foram conquistados também direitos na cama, como o de conhecer melhor o próprio corpo e o de experimentar tudo o que der vontade (e possa ajudar a alcançar o orgasmo), sem o preconceito atávico que nocauteia o tesão. Graças a isso, as mulheres estão derrubando, mesmo que aos poucos, aquele que parece ser o último dos tabus de alcova: segundo um estudo realizado no país pelo Projeto Sexualidade (ProSex) do Hospital das Clínicas de São Paulo, 15% das brasileiras praticam sexo anal. O dado está no livro 'Descobrimento Sexual do Brasil - Para Curiosos e Estudiosos', da psiquiatra Carmita Abdo (Summus Editorial). Melhor que o número é o motivo: ao que tudo indica, elas não o fazem somente para agradar ao parceiro, como no passado, mas porque querem experimentar o que pode ser mais uma forma de obter prazer.

"A idéia me parecia interessante pelo simples fato de ser um modo de fugir do sexo convencional", conta a analista de sistemas Ana Luiza Parente, de 33 anos, de São Paulo, que já discutia o assunto com as amigas desde a época da adolescência. Foi ainda bem nova e com um namorado, com quem já tinha adquirido certa intimidade, que Ana resolveu transpor a fantasia para a realidade. 'Felizmente foi uma opção que deu certo', conta. 'Para mim, a chave do sucesso é querer, e eu queria muito. Por isso consegui ficar relaxada e não sentir o desconforto que todo mundo fala.'

Só com muito Tesão
'O que gerou preconceito com o sexo anal foi a rigidez da nossa cultura judaico-cristã, ao afirmar que tudo o que não leva à procriação é errado', avalia a psicanalista e sexóloga Regina Navarro Lins, autora do 'Livro de Ouro do Sexo' (Ediouro), que deve chegar às livrarias no fim deste mês. Mas as coisas estão mesmo mudando. Até a vergonha de ir comprar lubrificantes para a prática, missão antes deixada a cargo do homem, as mulheres já perderam. Foi o que constatou a Prudence, fabricante de preservativos e lubrificantes, ao reunir um grupo de consumidoras de 20 a 35 anos para uma pesquisa qualitativa. 'Com o preconceito diminuindo, as pessoas ganham, porque as zonas erógenas, de prazer, se ampliam', diz Regina.

Que o diga a ex-bailarina americana Toni Bentley, autora do polêmico livro 'A Entrega' (Objetiva), no qual afirma com todas as letras que só descobriu o verdadeiro orgasmo ao praticar sexo anal. A brasileira Carolina Vieira, uma publicitária de 22 anos, faz coro: 'Hoje posso dizer que não me sentiria completa se não praticasse sexo anal. Faço questão'. No entanto, a publicitária lembra que sua primeira vez não foi nada boa. 'Além de muita dor, me senti invadida, quase molestada. Não tive prazer algum', conta. Não era para menos: Carolina não fez sexo anal porque queria, mas porque, ainda virgem, achou que era a única maneira de 'ceder às investidas' do insistente namorado. A sensação de prazer com a prática só veio mais tarde. 'Quando venci meus medos', diz. 'Já não era mais virgem e tinha aprendido a confiar que meu namorado estava disposto a me dar prazer. Aí consegui me soltar.'

'O ânus não tem a mesma elasticidade e lubrificação da vagina', diz a psicanalista e sexóloga Regina. Por isso, estar muito excitada e conseguir relaxar antes e durante a penetração são fatores essenciais para tornar o sexo anal bom (leia quadro 'Os primeiros passos'). 'É verdade que a prática provoca um prazer físico para o homem, pois ele sente uma pressão maior no pênis. Mas só se deve fazer se os dois quiserem. Ela tem que querer, estar com muito tesão. Não pode ser um sacrifício', afirma Regina.

Estimulação Paralela
A paulistana Lilian N., de 41 anos, sabe toda essa lição de cor. Gerente de uma loja de produtos eróticos, é adepta da prática há dez anos, sempre com o mesmo namorado, com quem hoje mora. Foi Lilian quem propôs começar, já que gostava de receber durante a transa todo tipo de estímulo na região. Para extrair o máximo de prazer do sexo anal, ela lança mão de vários apetrechos, de lubrificantes a vibradores portáteis. 'Depois que se aprende como fazer, o desconforto fica de lado e, aí, é só curtição', defende. 'Com o sexo anal, o orgasmo até parece mais intenso.'

Não há indícios científicos que comprovem a tese de Lilian. 'O orgasmo é sempre o mesmo, independentemente de como ele é provocado', avisa Regina. Embora, vale dizer, um nunca seja igualzinho ao outro - até porque tudo depende do dia, do humor, da excitação, da companhia, do clima, de uma infinidade de coisas. Mas sabe-se que a área do corpo em questão é de fato bem sensível. 'O ânus é uma região repleta de terminações nervosas e pode-se chegar ao orgasmo apenas com o sexo anal', esclarece a ginecologista e sexóloga Glene Rodrigues, de São Paulo. 'Porém, o mais comum é a mulher gozar quando recebe estimulação clitoriana durante a penetração anal.'

Essa estimulação paralela é fundamental para tornar a prática prazerosa, confirma a autodenominada 'terapeuta do amor' Rita Gutierrez, que ministra cursos na sex shop Love Place, em São Paulo. 'Na penetração, o homem pode estimular o clitóris com a mão ou usar um vibrador com controle remoto.'



Os primeiros passos


É fundamental ter um desejo absolutamente genuíno de experimentar, e não topar fazer apenas para agradar ao parceiro. Somente haverá prazer se houver muita excitação.

Recomenda-se usar sempre bastante lubrificante (à base de água, para não correr o risco de romper o preservativo), já que o ânus não tem a capacidade de lubrificação da vagina.

Nunca se deve dispensar a camisinha, não só por causa do perigo de pegar e passar doenças sexualmente transmissíveis, como a Aids, mas também porque as bactérias naturais da região podem causar outros problemas. Pelo mesmo motivo, o casal deve trocar o preservativo se, bem no meio, resolveu parar tudo e voltar à penetração vaginal.

Como os músculos do ânus não são tão elásticos quanto os da vagina, é preciso ir devagar. Uma sugestão é, antes de tentar a penetração propriamente dita, introduzir um dedo ou dois para relaxar a musculatura do esfíncter anal.

Se quiser garantir o prazer e afastar os fantasmas da dor, o mais recomendável é pedir ao parceiro para estimular o clitóris ao mesmo tempo. Ou a própria mulher pode se encarregar de fazer isso.

É preciso esquecer os mitos que são sempre repetidos por aí: sexo anal não provoca hemorróidas nem solta o intestino.

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